segunda-feira, 3 de agosto de 2009

na terceira pessoa e no gerúndio infinito do tédio

Naquela segunda morna e cinza ela acordou ao meio dia. Sentou-se na cama, conferiu as horas no celular e sem escandalizar-se colocou os pés no chão e ficou em pé. Os pensamentos já estavam lá, do outro lado da cidade, a imaginar o que ele estaria fazendo e, mesmo não sabendo exatamente o quê seria, teve a certeza que não era o mesmo que ela.
Fez um chá de maçã sem açúcar e comeu uns biscoitos de maisena com chocolate. Sentiu vontade de não falar com ninguém e ouvir somente músicas menos agitadas e todos os pensamentos daquele dia. Ela sabia que isso não seria possível o dia todo, pois havia comprometido a sua noite, mas decidiu realizar a tal vontade enquanto pudesse.
Aquele começo de tarde, que lhe parecia manhã, estava exatamente como ela se sentia. Dentro de si não se sentia preenchida por grande alegria e felicidade, porém não havia tristeza e dor tocando em alguma parte do seu coração. Ela não sabia definir o sentimento, apenas sabia que algumas coisas poderiam ser diferentes. Pensou nas diferenças e, como haviam milhões de possibilidades, decidiu meditar no que de fato acontecia e em como se sentia.
Começou a escrever sobre o seu amor. “Uma combinação de sentimentos forma o amor...“ Pensou. Imaginou o casamento que pretendiam para o começo do próximo ano. Preocupou-se com todos os detalhes e, racionalmente, deixou essas preocupações para os dias certos.
Pensou novamente no amado. Tentou imaginar esse dia cinzento sem a existência dele em sua vida, e estremeceu sentindo um nó na garganta sucedido de uma leve sensação de relaxamento por lembrar-se de que ele existia sim em sua vida e em como a cada dia ele conquistara todos os cômodos do seu coração.
Recordou todas as segundas solitárias que já viveu sem imaginar que seria possível amar novamente. Trouxe à luz a vontade de choro que sentia todos os dias ao perceber o quanto sua vida era solitária e vazia, mas sorriu entendendo que aquele passado só a preparou para viver esses dias acompanhando o rapaz que havia entrado e aberto as janelas do seu coração e deixado a luz e o calor do amor entrar.
Outras coisas passaram a incomodar os pensamentos e fizeram-na sentir uma leve dor no estomago. A maioria eram coisas muito profundas por isso negou-se a continuar pensando. O relacionamento com sua mãe era uma dessas coisas, e também o mais difícil de fugir, não havia a possibilidade de apenas não-pensar, pois a mãe se fazia presente na casa. Perfurava o silêncio dos seus pensamentos, tirava a serenidade e trazia para dentro uma irritação que fazia com que ela sentisse a cabeça quente, o estômago azedando e as mãos dormentes. Ela não queria fazer mal à mãe, muito menos revidar as provocações, queria ficar a sós com os pensamentos e não sujeitar-se às suas injustiças. Procurou ignorar todo aquele incomodo e fechou-se mais ainda em seus pensamentos ajudada pela melancólica música que ouvia. Por um instante pensou no violino que estava encostado na parede que estava na sua frente. Um barulho de panelas caindo na cozinha e um esbravejar da mãe a trouxe novamente a todas as sensações causadas por ela que por conseqüência a fez esquecer-se do que pensava sobre o violino.
Voltou a escrever a crônica que havia começado e que não sabia como terminar, ouviu o barulho de um caminhão passando na rua e achou engraçado o fato do som combinar com a música que estava ouvindo.
Uma série de acontecimentos a tiraram violenta e bruscamente de seus pensamentos, o acesso à internet a distraiu e a intermitente interferência da mãe impediram o silencio. Mas depois de tudo veio-lhe por email o tédio. Pensou e entendeu que era essa pesada palavrinha de 5 letras e todo o marasmo que seu significado trás que a afligia todas as segundas-feiras.
Tentou terminar o texto, mas não pode. Ficou sem fim, assim como o tédio semanal...

domingo, 19 de julho de 2009

este, não mais só

Agora, ao descobrir que tenho pelo menos um leitor, me senti (não necessariamente) obrigada a fazer existir no mundo cibernético os pensamentos que, até então, só existiam, no máximo no meu bloco de notas...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

didático di.dá.ti.co adj (gr didaktikós) 1 Escolar. 2 Relativo ao ensino. 3 Próprio para instruir.

PARTE II




"Oh como tudo está longe
e há tanto tempo passado.
Creio que a estrela,
de que recebo brilho,
está já morta há milénios.
Creio que no barco,
que passou por mim,
ouvi dizer qualquer palavra de medo.
Na casa bateu horas
um relógio...
Em que casa?...
Gostava de sair do meu coração
para debaixo do céu imenso.
Gostava de rezar.
E uma, de entre todas as estrelas,
havia de existir ainda na verdade.
Creio bem que saberia
qual delas foi que durou
sozinha,
qual, como cidade branca,
está no extremo do raio nos céus..."

(Trecho da Oitava Elegia de Rainer Maria Rilke)

didático di.dá.ti.co adj (gr didaktikós) 1 Escolar. 2 Relativo ao ensino. 3 Próprio para instruir.

PARTE I

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

(Poeminha do Contra - Mário Quintana)


efêmero


e.fê.me.ro
adj (gr ephémeros) 1 Que dura um só dia. 2 Passageiro, transitório. 3 Bot Diz-se das flores que murcham no mesmo dia em que desabrocham. sm Bot Planta melantácea (Hermodactylus niger).

Eu

eu1
pron (lat ego) Pronome pessoal da primeira pessoa do singular. Emprega-se como sujeito ou predicativo. sm 1 A entidade ou a individualidade da pessoa que fala. 2 A individualidade metafísica da pessoa. 3 Egoísmo. 4 Estima ou apreço do que nos é pessoal.

eu2
pref (do gr) Exprime a idéia de bem, bom, belo: eubiótica, eucalipto, eucromo. Quando o elemento seguinte começa por vogal ou h, toma a forma ev: evangelho, evemia.

terça-feira, 21 de abril de 2009

As horas mais estranhas do que a ficção

Uns dizem que as coisas que acontecem na vida são obras do mero acaso. Outros preferem acreditar que nada acontece simplesmente por acontecer. Seja a roupa que você resolver vestir só por vestir, ou aquele rapaz que você conheceu naquele bar que você tanto odeia, mas que foi só para dar apoio à uma amiga num momento de tristeza...
Minha vida tem sido marcada por uma série de coisas desse tipo. Nada grande. Não esbarrei com o amor da minha vida na rua, muito menos achei uma nota de cem reais por aí. É claro que se acontecesse isso eu ficaria feliz, mas não são esses os casos (e acasos). São mais sútis, e talvez eu nem os perceberia se eu não tivesse decidido estar mais atenta às pequenas coisas da vida.
Tenho vivido um momento de busca criativa, estou aprendendo constantemente com detalhes quase que insignificantes ao meu redor.
Nesse final de semana, debaixo de um guarda-chuva sob a minha tempestade interna, peguei vários filmes na locadora. Sempre faço isso quando quero fugir do mundo e das pessoas. Dois deles foram "As horas" e "Mais estranho que ficção". Ambos, de maneira diferentes falam de escritores e seus escritos. Os dois mostram os autores no processo de criação e também quando o terrível "branco" aparece. O interessante é que além disso, em um dos filmes um relógio é coadjugante mesmo que a sua função (marcar as horas) seja ignorada. No outro, apesar do nome, sequer mostra a imagem de um relógio... observei isso atenta.
Assisti maravilhada aos dois filmes. As histórias me absorveram, e me lembrei de que eu sempre soube desses filmes, e sempre os olhava na prateleira mas nunca os alugava. Sabia que eram bons mas tinha a sensação de que eles me diziam para esperar que o momento do meu encontro com eles ia chegar. E chegou. Nada com efeitos especias nem trilha sonora estonteante. Foram os filmes certos na hora certa. Há duas semanas ou mais me empenhei em terminar uma peça, um monólgo, que eu havia começado mas nunca seguia em frente, algo me impedia e, desde quando decidi terminar, esse universo tem ocupado minha mente e a minha rotina. E justo quando dou uma parada para ver um filme e relaxar, os filmes me trouxeram novamente à esse mundo, me fazendo crer que de fato estou fazendo a coisa certa na hora certa: escrever calma, serena e tranquilamente.
Recomendo os dois filmes para qualquer um quer ler esse texto. Creio que cada pessoa interpreta uma obra de arte de acordo com suas vivências passadas e aquilo que está vivendo no presente. Essa é a beleza de uma obra. Quando ela sai de um artista ela é uma, é somente o reflexo de um sentimento. Mas ao penetrar em outros corações ela se torna infinita, impossível de descrever com uma palavra somente e passa a ter milhares de significados deixando de ser do artista passando a ser de quem ela toca, passa a ser única e fruto de todos...
Então a tarde cinza que me prometia monotonia passou agradavelmente e sutilmente o vento atrás da janela sussurava um leve "eu sabia"...




Ps: ainda vou escrever melhor sobre esses dois filmes. Juntos.

domingo, 19 de abril de 2009


Arte é ilusão, pois eu não ajo

Fico ou Parto - com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.

Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.

Neste estado não mundano em que me movimento
Minha Fe e Esperança são diabólica moeda corrente
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor.

(Allen Ginsberg)

terça-feira, 14 de abril de 2009

mulier sapiens


Quem disse que mulher só pensa em casar? são tantas coisas para se preocupar hoje em dia. Os quilos, a bolsa, o crime, a politica, o trabalho, a falta dele, o tempo e a falta dele também. São tantas coisas e tem gente que fala que no fundo uma mulher só quer casar. Casar para quê? para cozinhar pro marido, para ter q aguentar ele todo dia acordando com um bafo terrivel e ter q tirar a toalha molhada que ele deixa em cima da cama?
Muitas mulheres querem a presidencia de um país, o prêmio nobel da paz ou o Oscar de melhor filme. Outras querem somente não serem consideradas somente mulheres, mas consideradas tão corajosas e capazes quanto qualquer homem dentro dessa ou daquela empresa.Outras querem poder escolher e não esperar serem escolhidas e acham que quanto mais os anos passam mais belas elas ficam.
Muitas, senão todas, querem sim ter filhos, mas não somente por que essa é a função delas na terra, ou para eternizar um amor, mas o querem por que tem a esperança de poder ensinar algo bom para alguem e assim poder contribuir para um mundo melhor. Ensinar pessoas em bons caminhos podem sim gerar um mundo melhor. Algumas aceitam o destino de se casar, sabendo que são elas as grandes mulheres que fazem homens tão grandes quanto elas. Elas querem sim um homem que as protejam, mas sabem que em quase todas as vezes elas que serão proteção.
E alguns ainda dizem que mulher só pensa em casar!? Sim, o vestido, a festa! Dizem que é o grande dia! De fato é, mas não necessáriamente pelo casamento em sí, mas por que ela está sendo o alvo de todas as atenções e por mais que existam mulheres mais magras e belas do que ela , ela é a mais bonita de todas naquele lugar.
Desde quando menstruam já se tornam mais do que eles. Ficam mais maduras, mais sensíveis e querem mais do que simples meninotes, passam a querer homens. Homens que pensem em casar e que vem que elas se preocupam com os quilos, a bolsa, o crime, a crise. Que vejam que elas são artistas, profissionais, especiais e que correm sérios riscos de enlouquecer!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Depois de vários ensaios decidi, hoje, justo hoje, criar esse blog. Nem um dia é mais apropriado para abrir essa caixa cheia de verdadeiras mentiras e de mentiras muito verdadeiras.
Eu, o Abreu e todo mundo precisamos falar. Eu falo, tu falas, ele (até sozinho) fala.
- É meu irmão. Agora a gente não fala não. Nem olha na cara. Agora a gente escreve! Disse um bêbado hoje no bar.
Então tá! Eis-me aqui a escrever. Sem olho no olho. Sem bonitezas e eleganteios, o eu passarinho começa com pernas curtas!