Uns dizem que as coisas que acontecem na vida são obras do mero acaso. Outros preferem acreditar que nada acontece simplesmente por acontecer. Seja a roupa que você resolver vestir só por vestir, ou aquele rapaz que você conheceu naquele bar que você tanto odeia, mas que foi só para dar apoio à uma amiga num momento de tristeza...
Minha vida tem sido marcada por uma série de coisas desse tipo. Nada grande. Não esbarrei com o amor da minha vida na rua, muito menos achei uma nota de cem reais por aí. É claro que se acontecesse isso eu ficaria feliz, mas não são esses os casos (e acasos). São mais sútis, e talvez eu nem os perceberia se eu não tivesse decidido estar mais atenta às pequenas coisas da vida.
Tenho vivido um momento de busca criativa, estou aprendendo constantemente com detalhes quase que insignificantes ao meu redor.
Nesse final de semana, debaixo de um guarda-chuva sob a minha tempestade interna, peguei vários filmes na locadora. Sempre faço isso quando quero fugir do mundo e das pessoas. Dois deles foram "As horas" e "Mais estranho que ficção". Ambos, de maneira diferentes falam de escritores e seus escritos. Os dois mostram os autores no processo de criação e também quando o terrível "branco" aparece. O interessante é que além disso, em um dos filmes um relógio é coadjugante mesmo que a sua função (marcar as horas) seja ignorada. No outro, apesar do nome, sequer mostra a imagem de um relógio... observei isso atenta.
Assisti maravilhada aos dois filmes. As histórias me absorveram, e me lembrei de que eu sempre soube desses filmes, e sempre os olhava na prateleira mas nunca os alugava. Sabia que eram bons mas tinha a sensação de que eles me diziam para esperar que o momento do meu encontro com eles ia chegar. E chegou. Nada com efeitos especias nem trilha sonora estonteante. Foram os filmes certos na hora certa. Há duas semanas ou mais me empenhei em terminar uma peça, um monólgo, que eu havia começado mas nunca seguia em frente, algo me impedia e, desde quando decidi terminar, esse universo tem ocupado minha mente e a minha rotina. E justo quando dou uma parada para ver um filme e relaxar, os filmes me trouxeram novamente à esse mundo, me fazendo crer que de fato estou fazendo a coisa certa na hora certa: escrever calma, serena e tranquilamente.
Recomendo os dois filmes para qualquer um quer ler esse texto. Creio que cada pessoa interpreta uma obra de arte de acordo com suas vivências passadas e aquilo que está vivendo no presente. Essa é a beleza de uma obra. Quando ela sai de um artista ela é uma, é somente o reflexo de um sentimento. Mas ao penetrar em outros corações ela se torna infinita, impossível de descrever com uma palavra somente e passa a ter milhares de significados deixando de ser do artista passando a ser de quem ela toca, passa a ser única e fruto de todos...
Então a tarde cinza que me prometia monotonia passou agradavelmente e sutilmente o vento atrás da janela sussurava um leve "eu sabia"...
Ps: ainda vou escrever melhor sobre esses dois filmes. Juntos.